Vazio sanitário de soja e sua importância para as lavouras
Para entender a importância do vazio sanitário de soja, é preciso primeiro entender o que vem a ser esse vazio sanitário e porque ele surgiu.
No ano de 2001 foi identificada pela primeira vez em lavouras brasileiras a ocorrência do fungo Phakopsora pachyrhizi, o responsável por causar a doença ferrugem asiática, que antes de ser identificado em nosso país já era um problema nas lavouras de países orientais. A ferrugem asiática chegou ao Brasil atingindo primeiro o estado do Paraná, mas logo a doença se alastrou por nosso país e em 2004 resultou em uma infestação generalizada em regiões produtoras. Percebendo os severos danos causados pela doença nas lavouras de soja e também sua alta capacidade de disseminação (pois o fungo dissemina por meio do vento, que carrega os esporos – suas unidades de reprodução), os produtores viram a necessidade de agir rapidamente para reverter o quadro, instituições públicas e privadas passaram a estudar o comportamento do patógeno nas lavouras. E foi assim que surgiu e foi aplicado pela primeira vez o vazio sanitário da soja, com o intuito de integrar medidas de manejo de doenças que pudessem proteger a sojicultura nacional e oferecer maior tranquilidade aos produtores.
Em 2007, foi criado o PNCFS (Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja), visto que o ciclo de vida acelerado do Phakopsora pachyrhizi é favorecido por condições climáticas de temperaturas amenas e alta umidade.
O vazio sanitário é o período definido e contínuo em que não se pode semear ou manter vivas plantas de soja em determinadas áreas, pois o fungo causador da ferrugem asiática precisa de hospedeiro vivo para se desenvolver e multiplicar. Eliminando as plantas de soja na entressafra, quebra-se o ciclo do fungo (a chamada ponte verde) assim reduzindo a quantidade de esporos presentes no ambiente e retardando possíveis ocorrências da doença na safra. Essa iniciativa foi tomada com base em pesquisas que indicaram a sucessão soja-soja como um agravante na infestação do fungo Phakopsora pachyrhizi, causador da ferrugem asiática.
É preciso então manter um período mínimo sem cultivo, para que a eliminação das plantas hospedeiras, no caso a soja tiguera, seja uma estratégia de manejo pré-semeadura para erradicar a doença fúngica nas lavouras. O ciclo de vida curto do fungo, de 6 a 9 dias, apesar de ocasionar sua rápida propagação, também permite combater as populações em pouco tempo. Portanto, o período de vazio sanitário é considerado indispensável para a contenção do patógeno, uma vez que manter as áreas de produção de soja limpas por 60 dias ou mais pode impedir o desenvolvimento dos inóculos e frear a reprodução do fungo, evitando a infestação precoce nas lavouras.
Segundo o último boletim de grãos da Conab, apesar dos 4,4% de aumento de área plantada, alguns resultados foram abaixo do esperado ao final da safra de soja 2021/ 22, com queda de 14,1% na produtividade em relação ao ano passado. Esse balanço negativo não foi bem uma surpresa, já era esperado diante das variações climáticas e seus efeitos nas lavouras. Então, como uma estratégia a fim de reverter a queda de produção no próximo ciclo, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) publicou novas diretrizes para o vazio sanitário da soja.
Com o objetivo de diminuir os danos causados pela ferrugem asiática, otimizar o manejo integrado de doenças logo nos momentos iniciais do cultivo, reduzir a necessidade de controle químico ao longo da safra e obter melhores resultados na próxima colheita, a decisão das novas diretrizes fixa mudanças no calendário da sojicultura para 21 unidades federativas produtoras de soja, alterando o período de janela de plantio.
Essas medidas devem ser devidamente regulamentadas em cada Estado para que não haja infestação tardia nas plantações, evitando a necessidade de aplicação abundante de fungicidas e driblando a resistência do fungo aos produtos disponíveis no mercado.
Para a safra de soja 2022/23, por meio da Portaria nº 516, o Mapa estende a obrigatoriedade do vazio sanitário de 14 unidades federativas que exercem a sojicultura em seus territórios para 21 unidades, incluindo o Distrito Federal.
A principal mudança diz respeito à extensão do período mínimo obrigatório para ausência de plantas nas lavouras que passou de 60 para 90 dias, o que implica em mudança no calendário de semeadura.
Vale ressaltar que, com a autonomia concedida aos órgãos estaduais de Defesa Agropecuária, alguns estados podem vir a aplicar alterações nos calendários de plantio na área produtora que lhe compete. Como é o caso do Tocantins, por meio da ADAPEC (Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Tocantins), e do estado de Goiás, por meio da Agrodefesa (Agência Goiana de Defesa Agropecuária). Tal flexibilidade se dá pelos contextos específicos que os gestores identificam nessas regiões.